Não há fronteiras, alalá…

Sei que a piadinha esta sobre a canção “Terra” das Tanxugueiras não é mui boa. Peço desculpas por ela.

Hoje vim no Twitter escrito em galego (o Galituitter) que um usuário acusava-nos aos reintegracionistas de que já nem sabíamos como é que fala um galego.

Talvez ele esqueceu que os reintegracionistas, para começo de conversa, somos na maioria galegos. Não podemos ver a fala galega desde fora, porque nós próprios falamos como fala um galego.

Mas no fundo o que ele dizia era que não conhecemos as fronteiras entre galego e português. Por considerarmos que galego e português fam parte da mesma língua é lógico que alguém pense que nem somos quem de deslindar ambas variedades.

É interessante. Ele punha o exemplo de alguém que começa a conversa dizendo “Oi, pessoal!”. Certamente não é uma expressão própria dos galegos. E também é certo que eu tenho lido cousas do estilo, e mesmo escrito, falando com uma audiência que na maioria são galegos.

Pois esta foi a minha resposta:

Tudo é questão de perspectiva, conhecimento e experiência. Normalmente não somos quem de saber as fronteiras entre galego e castelhano. Digo isto seriamente.

Podes saber que “cueva” é castelhano e “cova” é galego. Ok. Soam bem diferentes. Mas há inúmeros castelhanismos, e nem sempre sabemos diferenciar; porque alguns são indetectáveis agora. Não eram há 40 anos. Como “espera um rato”. Escuito isso sempre. Mas “rato” é um animal, não é? E todo o mundo di “vou dentro dum rato”, mas é absurdo… porque uma pessoa não colhe aí. E essa é só uma das expressões castelhanas insertadas no galego. Há também muito léxico que vai entrando, e até as vogais abertas/fechadas começam a se neutralizar na fala popular pola influência do castelhano e o galego xunteiro (outra ferramenta castelhanizante, penso eu).

Total: o galego está-se diluindo já no espanhol. Completa e irreversivelmente. E “não há fronteiras” aí. Então convém considerarmos a perspectiva. Eu tenho casa em Portugal, no norte. Ali não tenhem quase castelhanismos. Mesmo atrapalha a comunicação dizer “bueno”. Para os leitores lusófonos, quero aclarar que “Bueno” é começo de frase bem habitual no galego: “Bueno, já sabias que isso não convinha fazê-lo…”

Desde essa perspectiva, a de alguém que tem um mínimo contacto com o português, descobres que é possível falar galego sem meter castelhanismos. E conhecendo isso, os “dentro de um rato” soam FATAL. Este contacto com o português tem o efeito de que começas a evitá-los.

E bem pode ser que ao princípio o contacto com o português, que vás intensificando (porque costumas ver filmes, séries, ter conversas, etc) tenha o mesmo efeito que o espanhol: custa diferenciar onde é que começa o galego e acaba o português. E com mais razão mesmo que com o espanhol, porque basicamente são a mesma língua com pequenas variantes.

E ti estás a tentar evitar o uso de castelhanismos desnecessários, lembra. Daquela vai entrando a terceira cousa que dixem: A EXPERIÊNCIA. Com o tempo podes ir delimitando melhor as fronteiras da tua variedade, galega, dentro desse universo lusófono. E quando queres dizer algo, escolher com mais conhecimento a palavrinha. Que estás falando de forma informal? Pois talvez gostas de usar “Oi, pessoal!” porque adoras essa expressão ainda que nem sabes se é de Portugal ou Brasil. Ou dis “Que passa, chavales!” porque é castelhano, mais gostas.

Ou dis “Opa, gentalha!” porque escuitache um ferrolão a dizer isso um dia. E sabes que gentalha é algo ofensivo, mas depende do contexto. E qual é a forma 100% galega? Talvez nem o sabes já, porque tudo está misturadinho na tua cabeça.

Então, qual é para mim a conclussão?

Pois é simples: quando tés input linguístico doutra língua ou doutra variedade da tua língua, a influência é inevitável. Daria um trabalho imenso desbotar todas as vezes que escuitache uma expressão bacana, fixe, molona.

E no geral, o bombardeio de castelhano na Galiza é tão constante e inevitável que mesmo chegamos a pensar que a maioria das expressões que estão na rua, nos Media ou em Internet formam um contínuo com o galego. Ouvir “dentro de un rato” é o normal. E interiorizamos isso sem nos decatar que não tem NADA de galego.
Do mesmo jeito, se na tua casa escuitas continuamente expressões portuguesas e brasileiras na TV, Netflix, Internet, podcasts… interiorizas igualmente essas expressões e talvez um dia digas sem notar que não é típico do galego, algo como “Oi, pessoal”.

E pergunto eu… por que devemos ser permissivos com “dentro de um rato” e não com “oi pessoal”? Por que consideramos que a segunda ataca à essência mesma do galego e a primeira não?

Desde a minha perspectiva, fai mais dano a primeira. Atenta contra a estrutura mesma da língua, traz um significado novo para o pobre ratinho que só queria comer grão. E a segunda é só uma expressão festiva, mais inocente. Que tem menos uso e menos impacto. E até moderniza o galego com algo chegado desde o nosso universo linguístico. É uma achega.

Exercício de disenho* charramangueiro

As lojas low-cost tenhem chegado há tempo a Europa, mas agora, após várias crises e a constante suba de preços (é uma táctica que o Capitalismo precisa para manter as classes sociais divididas), são uma parte importante da economia. Temos lojas físicas low-cost, lojas low-cost online e mesmo segundas marcas low-cost que na actualidade, por irem-se normalizando cada vez mais, há tempo que vendem produtos dignos ou quase, com boa qualidade.

TEDI, preços baratos e disenho charramangueiro propositado.

Mas… no marketing existe uma tendência mui rechamante: grandes cadeias comerciais internacionais, cujo capital iguala ou mesmo supera o dalguns países pequenos, usam paradoxalmente uma publicidade propositadamente charramangueira, kitsch. Isto fai-se com a intenção dissimulada de que as pessoas que compram(os) nestas lojas pensemos que os preços são os mais baratos, pois, pobrinhos, não podem gastar em publicidade bem feita e fazerem disenhos elegantes.
Porém, é uma estratégia bem calculada e propositada.
Algumas lojas com esta estratégia são:
-LIDL
-TEDI
-MediaMarkt
-Muebles Tifón
-Dia/Minipreço
Em geral é um estilo de publicidade que fai uso de combinações de cores rechamantes como vermelho-amarelo (em Espanha ainda é algo tabu porque relacionamos esta combinação com a bandeira do Reino), amarelo-verde, amarelo-azul, vermelho-azul… e mesmo todas elas juntas; também tipografias misturadas de forma algo chocante e abondosos efeitos como sombras, transparências, cantos grossos arredor dos elementos, super-posições estranhas de camadas; logótipos e ícones requintados…

Muebles Tifón. Publicidade actual, quase é até bonita.

Mas, a normalização destas lojas com o tempo fijo que agora essa publicidade seja algo menos pirosa, algo mais trabalhada. Tenta-se nalguns casos um equilíbrio entre as cores rechamantes e tipografias escolhidas com mau gosto e uma certa elegância no disenho.

A VENDA POR WALLAPOP

Outro fenómeno que vai da mão da publicidade propositadamente ruim é, na economia para os pobres da sociedade, o que chamam de “economia colaborativa”. Lojas de segunda-mão, oferecimento de serviços ou produtos que fam pessoas “normais”, é dizer, não profissionais, que lembra algo ao P2P informático.
Quem não tem usado Blablacar, AirBNB, Vinted ou Wallapop?
Aqui a parte charramangueira está só nos produtos, serviços ou mesmo os comentários feitos polas pessoas normais, a multinacional que criou a plataforma usa marketing de primeiro nível, fazendo mesmo campanhas caras de TV e internet para se promocionar.


UM EXERCÍCIO DE DISENHO

Como tivemos já mais de 20 mudanças entre casas e até diferentes cidades, já nos temos visto na situação de ter que vender cousas duma casa para aligeirar as deslocações.
Numa ocasião, quando deixamos Málaga, figéramos um anúncio no Facebook ao estilo do IKEA, pois os nossos móveis eram em geral dessa loja… e foi mais ou menos sonado entre as nossas amizades. Vendimos quase tudo.

À volta em Ferrol, figémos um novo anúncio para vazar a nova casa, que tinha cousas dos antigos donos. Desta vez, polo enorme êxito que tivera Muebles Tifón na nossa cidade (de feito havia vários desses móveis na casa a vazar), usamos o estilo TIFÓN para vender esses novos objectos. E de novo, demos vendido quase tudo.

Desde aquela, utilizo este exercício de imitação do estilo “Tifón”, para treinar os meus alunos de disenho gráfico. É perfeito para os meus alunos descobrirem todos os segredos da edição das camadas de Photoshop. Actualmente estou a utilizar este exercício no ensino de Photopea.


CARACTERÍSTICAS:
-Um anúncio de Internet para diversas plataformas.
-Medidas da imagem: 2048×2048 píxeis
-Formato de trabalho: PSD com várias camadas.
-Formato final: JPG, PNG, TIFF, PDF… o PSD de trabalho também deve ser entregue.
-Tem de anunciar 5 objectos à venta (electrodomésticos, sofás, mesas, potas…) de segunda mão. Podem ser fotos de objectos que tenhas pola casa ou sacados de wallapop.es. As fotos devem retocar-se para ficarem com um aspecto semelhante entre elas.
-Deve ter rótulos com cantos grossos, sombras, transparências… Deve ter efeitos em cada uma das camadas e imitar a estética de Tifón Muebles em cada apartado, incluindo o uso de cores amarela, vermelha e azul, tipografias, ícones, etc.

DICAS PARA O TRABALHO:
-Usa o teclado. Os profissionais sempre dim: “Photoshop usa-se com uma das mãos no teclado e a outra no rato”. Photopea é igual: sempre vai ser mais cómodo fazer “ctrl+D” para desseleccionar que usar o mesmo comando no menu. A listagem completa de atalhos/comandos do teclado do Photopea está no menu “Mais>Atalhos do teclado”.
-Começa pola escolha dos 5 objectos e móveis que queres vender. Aconselho-che ter algum mais reservado em previsão por se queres fazer mudanças nalgum momento.
-Utiliza uma camada diferente para cada objecto e para cada rótulo ou efecto.
-Guarda a imagem (em formato PSD) cada pouco tempo. Se houver qualquer problema poderias perder tudo. Photopea, ainda que seja um editor online, NÃO guarda uma cópia online do teu trabalho, senão no teu computador. Uma vez criado o arquivo o uso de CTRL+S tem de ser quase um “tic nervoso” para ti.
-Fai todas as cópias que precises. É melhor teres cópias de mais que de menos. Isto conta tanto para as camadas originais antes de transformá-las como para cópias múltiples do arquivo no que estás a trabalhar.
-Antes de rematares o trabalho aconselho-che IGUALARES os tons das fotografias dos objectos entre elas.



(*) Nota: eu uso aqui o castelhanismo “disenho” em vez do anglicismo “design”.

Glossário bilíngue de materiais artísticos

ESPANHOL/ESPANHOL SIMPÁTICO/GALEGO-PORTUGUÊS

Uma das mancas que temos no ensino na Galiza é que não conhecemos os verdadeiros nomes de muitas das palavras na nossa língua. O castelhano enche os ocos que ninguém quer preencher com as palavras que foram usadas antigamente ou que os portugueses ainda utilizam. A atitude do combinado Xunta+RAG é a de prover soluções rápidas que permitam uma tradução literal, palavra por palavra, do espanhol. Deste jeito logra-se uma nula interferência ou moléstia do galego a respeito da escolarização em espanhol, do processo de castelhanização. É por isso que a castelhanização avançou mais nos 40 anos de “normalización lingüística” que nos 1000 anos anteriores.  

Mas este esforço de doma da língua, de cria selectiva, desbotando palavras tradicionais ou a ajuda do português para criarem uma verdadeira “língua de substituição” na que cada uma das palavras das frases em castelhano poidam ser directamente trocadas por outras na língua RAG oficialmente certificada é um esforço não só titânico, caro e ingrato (porque vai fazendo o galego cada vez mais dependente do castelhano) senão realmente inútil. Porque:

  1. As línguas não trabalham assim. O galego vai perdendo naturalidade e utilidade, convirte-se em algo forçado.
  2. Nem domesticado querem além da Galiza o nosso idioma. 
  3. A dependência com precisamente a língua invasora vai contra o uso real das línguas porque as debilita.
  4. Melhor o original que o sucedâneo. Prefere-se geralmente o espanhol porque não tem sentido duplicar esforços. Melhor o modelo completo e original que o substitutivo incompleto.
  5. Perdemos a inter-compreensão com o português. O galego RAG não só é pouco útil em Portugal. É mesmo contraproducente, porque o código do castelhano pode ser conhecido lá, mas o código minoritário e só para iniciados duma versão da língua que sistematicamente fai diferencialismo a respeito da língua mais semelhante a ela… É dizer: se nós em Portugal dizemos “passeio”, que é palavra partilhada entre portugueses e ainda a tradicional para (alguns) galegos, vão perceber bem o que dizemos. Se dizemos “acera” muitos vão entender também, porque o código do castelhano é conhecido. Mas se dizemos “beirarrua” vai ser um WTF. Só os iniciados nas palavrinhas engraçadas da Real Academia Gallega vão saber de que estamos a falar.

Poderia continuar, há muitas mais razões polas que é má ideia converter uma língua viva numa língua subalterna, começando pola estranha ideia de querer conservar a independência do galego a respeito do espanhol adoptando e adaptando a ortografia do espanhol, as suas palavras, sintaxe, pronúncia… A RAG fai próprio o “Si no puedes contra ellos únete a ellos”?

Também é uma ideia ruim pôr a uma língua nunca normalizada antes uma roupa estreita, uma norma fortemente restrita a uma visão inédita e totalmente minoritária no seu tempo, como era o galego de “GALLEGO 1, 2, 3”, os livros do ILG para ensinar os rudimentos do galego a castelhanos. O galego usual nessa altura era muitíssimo mais “aportuguesado” para esses cânones do ILG, depois ILG-RAG. E infinitamente mais variado. As NOMIG estabelecem uma autêntica lei seca na que ficam proscritas as falas populares, não só a gheada (que uma norma baseada na dialectologia deveria promover) senão também o i de “passeio”, o e de “cantare”, as pronúncias etimológicas da Límia Baixa… tudo o que não for fácil para conselheiros e académicos neofalantes ficou fora da norma.


Em resumo: tudo mal.

Por isso penso que antes de continuarmos é preciso trazer um vocabulário básico de termos de desenho e pintura. Porque é a manca na que eu, como profissional do ramo, poido contribuir.

Já comecei a elaborá-lo, mas é um trabalho imenso. Noutros artigos irei mostrando-o.

As utopias da língua

Neste ano do Dia das Letras Galegas dedicado ao meu paisano dom Ricardo Carvalho Calero e do coronavírus, duas cousas chocantes, totalmente inesperadas, tenho pensado e escrito muito sobre a nossa língua. Hoje trago-vos uma reflexão sobre o chamado conflito normativo que argalhei hai uns meses. Aí vou:

O galego é uma língua que precisa da utopia para sua sobrevivência.

No tocante a utopias temos dous modelos. O isolacionismo e o reintegracionismo.

O primeiro modelo semelha ser realista hoje, porque na atualidade é o modelo mais estendido.
Mas a longo prazo é um modelo utópico, porque imagina que o galego vai sobreviver se continuamos a aplicar as mesmas políticas que já o têm quase matado por diluição no castelhano.

O segundo modelo foca-se no futuro. Em que para sobreviver o galego precisa de se reintegrar no ecossistema galego-português. Eu penso que nisso é realista. Mas olhando desde o mundo atual, no que já temos andando um longo trecho fugindo do português, esta opção vê-se muito utópica.

Daquela eu cuido que o único caminho possível é passarmos da opção mais realista atual à mais realista do futuro. Aceitar que já fumos isolacionistas mas o futuro estará na reintegração, seja ela como for.

O futuro ainda não está escrito. Já estamos caminhando entre utopias; elas vão conformando a realidade.

Em galego

Desde há um tempinho estamos a preparar uma nova migração. Já estivemos em Ponte-Vedra, em Barcelona e mesmo em Málaga. Agora olhamos ao Porto, no país de Camões, onde meu irmão leva já uns anos morando. ††

No Miradouro, mirando o Douro.

Por esta razão eu recuperei o meu galego escrito e falado. Agora na casa, ainda que não sempre somos quem de o fazer, falamos galego e isto fijo-me investigar o estado da questão da língua na Galiza.

Erroneamente, quando marchamos de Ferrol cara Málaga, tinha avaliada a situação do galego como boa. Digamos que a gente falava cada vez mais sunteiro, cada vez mais castelhanizado, mas que falava esse galego RAG e a língua RAGlega não perdia falantes.

Carmen numa porta do Porto.

Não podia ser mais diferente. Pola contra, o galego chegara já a ser a segunda e não a primeira língua da Galiza. Por primeira vez em séculos. E ainda por riba, à perda de falantes tínhamos que adicionar uma perda geral de qualidade, pois o galego enchia-se de castelhanismos (ainda mais) e quase chegava a ser de facto um dialecto do espanhol em muitas das falas populares. Mesmo lugares como a Ilha de Arousa, onde eu pudem experimentar por vez primeira a imersão linguística em galego, já era território plenamente castelhanizado.

Assim, a este interesse original pola língua galega como caminho para entrar no português, foi-se engadindo um tema de identidade. Também fomos mirando vídeos e ouvindo podcasts portugueses para conhecer mais… e basicamente tivemos a sensação de estar a aperfeiçoar o nosso galego.

A sé do Porto.

Eu dei-me de conta de que passei muito tempo a falar castelhano só, e mesmo chegamos a fazer publicidade dos nossos cursos só em castelhano, algo que nunca fazíamos. Sabida a situação real da nossa língua hoje, penso que é o momento de mudar muitas cousas e dar-lhe mais protagonismo ao galego. Mesmo passar a escrever neste o meu blogue (e outros) em galego. Que se finalmente já não há “mil primaveras mais” não seja pola minha culpa.

Hartismo 2.0

En 2008, Carmen, Mariano y yo presentamos al mundo el Hartismo. Un movimiento artístico que tenía como lema “El arte es de todos” enfrentándolo cuidadosamente a la famosa cita de Beuys “Todo el mundo es artista”.

El Hartismo tuvo su web (que aún está activa: http://www.hartismo.com) y su blog, cierta repercusión en la prensa y cuando salimos a la palestra mucha gente se nos unió en un montón de lugares. No solo de España, sino también de otros muchos países, en su mayoría hispanohablantes.
donttaketolucamex
Llegamos a participar con el Stuckismo en un par de exposiciones conjuntas (A Doble No, en Barcelona y Enemies of Art, en Londres). Lo pasamos muy bien, hicimos un par de acciones, una a nivel mundial “No me lleves a una Galería” y otra, “Día del orgullo pintor”, en Compostela. Tuvimos tanto amigos como enemigos, y hasta trolls profesionales dedicados en cuerpo y alma a echar abajo nuestro grupo.

Internamente tuvimos un muy activo grupo de Yahoo (sí, antes eso se usaba) en donde hubo muchas risas y alguna pelea…

Pero a partir de 2010 la cosa se fue apagando, en lo referente a la actividad pública como grupo. Mariano tuvo su primer hijo, Carmen y yo hicimos la diáspora, emigrando a Málaga… y no nos sobraba a ninguno de los tres el tiempo. Como teníamos una estructura organizativa demasiado centralizada, apenas conseguimos mantener la actividad.

En pocos años los blogs y webs normales fueron decayendo en aras de Facebook y Youtube. Y se veía la necesidad de transformar nuestra fachada pública.

Pues bien, hace unos días inauguramos UN GRUPO en Facebook, y estamos empezando a recuperar la actividad allí.

La dirección es: https://www.facebook.com/groups/hartismohartismo-ferrol

Se llama Hartistas del Mundo. Para solicitar la membresía solamente necesitáis pedirlo. Aunque os recomendamos encarecidamente hacer previamente este test, que viene a ser el que Mariano preparó hace casi diez años, pero adaptado a un formato interactivo. Seáis o no hartistas, os echaréis seguro unas risas.

http://alegra.me/quiz2/422918/

En la actualidad estamos revisando nuestros textos, nuestro mismísimo propósito fundacional y organización. Básicamente, creemos que la primera etapa del Hartismo consistió en hacer un diagnóstico sobre la situación del arte en el mundo y en nuestro país. Diagnóstico que comparten en su mayor parte los Stuckistas y otros colectivos. Pero ya casi diez años después creemos que tras el diagnóstico es momento de llevar a cabo el tratamiento. De actuar para curar al arte de una triste enfermedad, que durante casi un siglo ha ido carcomiendo su salud.

100anosQuizá la táctica de oposición frontal al conceptualismo ha llegado a su fin. El mismo ciclo del anti-arte parece haberse agotado tras cien años. Por eso nuestro grito no debería ser ya “mira qué engaño, el arte contemporáneo es una farsa”. Ya todo el mundo lo sabe o lo intuye, ya hay voces valientes que lo denuncian en la prensa tradicional y las redes. La gente sabe que al igual que el sistema económico vigente, su arte oficial tiene en realidad los días contados.
Hablando de ello para denunciar lo xxxx (póngase el adjetivo que se prefiera) que es el arte conceptual no hacemos más que insuflar oxígeno (actualmente en forma de visitas y likes) a algo que moriría si no se le da atención. Porque efectivamente, allá donde no se saca en prensa, donde no se subvenciona la formación universitaria, las exposiciones y se fomenta su presencia en el mercado mediante la continua exaltación de la “originalidad”, “compromiso”, “transgresión”, o cualquier otra cosa que venda en el momento, el arte conceptual muere por sí solo. No hay aficionados a construir instalaciones, a hacer proyectos land-art o acciones. No existen clases de conceptualismo para amas de casa o jubilados, por ejemplo. Porque no iría nadie, no existen tantos snobs.

6-1
Obra del gran Ben Shahn.

En cambio, la pintura siempre tiene público. Público que quizá crea que no sabe de arte. Que quizá crea que su simple voluntad de pintar los convierte en Goyas, o que creen que usar pinceles está anticuado. Pero el impulso de pintar prevalece pese a todo. A los pintores figurativos nos han metido en un Ghetto. Ghetto del cual solamente podemos zafarnos parcialmente adaptándonos a la única forma de pintura aceptada por los medios, por la oficialidad: el hiperrealismo, la pintura neoacademicista. Pero si tienes cualquier otro estilo serás como Orzoweii. Demasiado anticuado para participar en Arco, demasiado moderno para estar en un museo como el MEAM.

Quizá -haciendo autocrítica- la falta de rigor, la falta de trabajo y compromiso en algunos pintores que no se adscriben al movimiento Renewal (neoacademicista o hiperrealista según se llama hoy) hace que con justicia no se tenga demasiado en cuenta a la pintura no alineada con este movimiento. Los Renewal han tirado por la vía de la reacción total: volver a lo anterior al Impresionismo y las Vanguardias, tanto en técnica como temas, acabados… incluso ideología en algunos casos.

carlos-muro
Carlos Muro, MEAM

El Hartismo entiende esa reacción y la respeta. La mera existencia del MEAM y de ARC son una magnífica noticia, que da esperanza al mundillo del arte. Se demuestra que la calidad y el oficio vuelven a estar en boga. Se le da nueva vida a un estilo de pintura (el academicista) que había sido injustamente relegado durante más de cien años. Realmente son gente que ha trabajado y trabaja duro para conseguir el reconocimiento que hoy tienen, y hay mucho que aprender de ellos.

Incluso los conceptualistas pueden darnos algunas claves, saben cómo relacionarse con el público, la prensa, las galerías y el mundillo artístico…

Pero nosotros somos más de otra tendencia. No rechazamos en absoluto las vanguardias del XIX ni las del XX pero sí somos figurativos (bueno, seguramente no nos cerramos a la pintura abstracta tampoco). Queremos continuar en el punto donde lo han dejado Guttuso, Shahn, Kitaj, Hockney, Freud, Max Beckmann, el mismo Picasso… hay muchos grandes pintores que estuvieron haciendo evolucionar la pintura justamente hasta los años 50 y 60, incluso después. Pintores que luego tuvieron que conformarse con vivir aislados en Ghettos, obteniendo ellos y otros grandes maestros posteriores apenas una reducida fama local. Pintores como Rafael Úbeda en Pontevedra o Ricardo Segura Torrella en Ferrol, de los cuales algunos de nosotros hemos sido discípulos.

16e4b476a68900b0e3d6123c09770b9c
Obra de Lucian Freud, de la Escuela de Londres, uno de los principales pintores figurativos del siglo XX. 

Queremos reivindicar la modernidad y la fortaleza de la pintura, que no ha dejado de ser una de las artes principales pese a su ghettización forzada. Creemos que si aplicamos este tratamiento, el de dar visibilidad a la pintura no alineada, a la pintura maldita de los Ghettos locales, dándole la atención que merece por su compromiso y calidad, todo el edificio del anti-arte caerá por sí solo. Cuando al gran público se le da a elegir entre una serie de objetos inconexos  anti-artísticos desperdigados por el suelo o suspendidos en el aire, y una buena exposición de pintura donde ellos puedan ver color, fuerza y libertad pero con calidad, casi todos se identifican más con el que es de forma natural el arte de su época, pintura hecha por gente que vive en su mismo mundo y refleja los problemas y situaciones con las que ellos mismos se encuentran. Queremos, pues, reivindicar la pintura no alineada como arte contemporáneo.

Así que nuestro lema hoy es “Saquemos la pintura del Ghetto“. Y lo hacemos extensible a otras artes despreciadas hoy en día.

Pompiers de Vanguardia

pa0804_290
Carmen Martín concentrada, trabajando.

Hoy os traigo un artículo rescatado de mi blog antiguo, apenas modificado:

Los que nos dedicamos a pintarrajear telas, garrapatear papeluchos, así como los que, inexplicablemente, se siguen sintiendo atraídos por estos “trabajos manuales”, hace tiempo que tenemos que oír una serie de sentencias más o menos solemnes sobre el arte. Pero como casi todo lo solemne, son solemnes tonterías.

Algunas de estas sentencias, que vienen desde fuera de la profesión, son además de estúpidas, bastante mezquinas. Siento no ser capaz de separar estupidez y mezquindad, pero en cualquier caso existen; son las típicas críticas que comparan la pintura con los “trabajos manuales”, que valoran la originalidad de las obras, o su contemporaneidad.

Estas sentencias, que se usan para rellenar páginas y páginas de tantos suplementos culturales de periódicos, en resumen dicen “Yo creo, sí creo, creo en las Nadas”. Justifican que la nada se presente como creación genial, y a su vez dicen “nada”, para reforzar el discurso.

Pero no sólo de conceptuadictos se nutre la tontería.

Bouguereau - Le ravissement de Psyche

El arte oficial, aunque vacuo, no siempre ha sido basado en la nada. Hubo épocas pretéritas, en las que un pintor oficial al menos debía saber dibujar dos tetas. Y básicamente es lo que hacían: tetas o musculitos, en composiciones grecorromanizantes inverosímiles, o bien muchachitas tiznadas y desharrapadas con cara lánguida. Era la época dorada de los Salones Oficiales.

Aquel arte oficial, con nombres como los defendidos por Artrenewal.org era el de la aparatosa pintura narrativa, que en su afán por vender las cualidades de los que pagaban -cosa común en toda la historia del Arte, para qué engañarse- sobrepasó una invisible frontera, y cayó en la superficialidad. Bouguereau y Cabanel, ambos señores muy respetados en su tiempo, ilustra perfectamente el tipo de pintura que se hacía. Cursilería, ñoñería, que la excepcional técnica sólo conseguía resaltar. No obstante hay contadas excepciones de alta calidad como Sir Lawrence Alma-Tadema, que desde aquí quiero reivindicar.

Alexandre Cabanel - Cleopatra probando venenos en los condenados

El academicismo, arte oficial del siglo XIX cayó cuando el impresionismo y otros movimientos ascendieron. Fue una auténtica debacle. Hoy no podemos evitar ver la pintura académica como banal, decadente. Aunque visto el arte oficial de ahora, aquella exaltación sin sentido del ridículo de lo bello y lo bonito se echan de menos. Por no hablar del innegable encanto de lo decadente.

Poco a poco, los antiguos cuadros académicos y sus autores fueron cayendo en el olvido y sus cascos romanos, sirvieron para bautizarlos popularmente como pompiers (bomberos) por su parecido con los cascos de aquellos profesionales con manguera. La palabra pompier quedó como símbolo de la grandilocuencia petulante, el esteticismo ñoño y ridículo de aquellos cuadros de muchachos musculosos con casco de bombero y mozas en porretas por exigencias del guión.

El psicoanálisis apareció poco después.

Poco a poco se les llamó pompiers también a los nostálgicos de ese estilo y hoy en día podemos encontrar pompiers (aquí les llamamos domingueros) en las asociaciones de pintores aficionados locales.

Los pompiers valoran en los cuadros cosas como la proporción de las figuras, el parecido, el estilo “acabado” y luego las cosas serias, como la composición y la perspectiva.

Claro que a su vez ellos no han llegado todavía a dominar ninguna de esas cosas, pero son inflexibles en sus juicios, y suelen terminar la conversación con un sonoro “¡A mí no me gusta Picasso!”.

BIO-PICASSO

No es que estas cosas no las considere importantes, o que no tolere la aversión por el “pintor francés nacido en Málaga”, pero todos estos son rasgos distintivos de esta curiosa estirpe.

La visión de la pintura que los pompiers tienen está construida a base de lugares comunes. Cosas leídas o escuchadas en vete a saber dónde, y que tienen muy poca coherencia y unidad.

De la órbita pompier provienen las “ortodoxias técnicas” que cada año tengo que borrar de la cabeza de mis alumnos: que si el óleo es mejor que el acrílico, que si hay que usar aguarrás puro -esencia de trementina rectificada, oiga- y aceite -pringoso- de linaza para el óleo como es debido, o que los retratos deben ser comenzados precisamente por los ojos y con un pincel finito.

parramon-el-gran-libro-de-la-pintura-al-oleo-1-638
La biblia del perfecto pompier.

También los prejuicios más variopintos:

  • Un buen cuadro se pinta despacio.
  • Un buen dibujante es el que cuenta las pestañas del modelo.
  • El desnudo es más difícil que el paisaje.
  • Los años del pintor equivalen a años de experiencia…

En general, cuando uno tiene altas miras, las sentencias y juicios de los pompiers resbalan. Pero si se encuentra uno rodeado de ellos en alguna reunión social, llegan a ser agobiantes. En realidad están arrinconados. Su reino cayó hace más de un siglo, y hoy no se les presta atención alguna, excepto en alguna que otra ciudad de provincias. Como Ferrol, por cierto.

Hoy, los que cortan el bacalao no son los admiradores de la teta griega -qué más quisiera yo- sino los de la caca enlatada. El arte oficial de hoy es el anti-arte-académico. Es justo lo contrario: en lugar de belleza divina, fealdad infernal. En lugar de elegancia, vulgaridad. Como si Aristóteles no hubiese dicho nunca que la virtud está en el término medio.

aca0124

Ígor Stravinsky, quizá el más genial músico de las vanguardias históricas del siglo XX dijo en su Poética Musical, libro que recomiendo fervientemente:

“Como toda clase de males, el esnobismo tiende a engendrar otro mal, que es su contrario: el pompiérisme. En el fondo, el esnob no es sino una especie de pompier, un pompier de vanguardia.

Los pompiers de vanguardia hablan de música del mismo modo que de freudismo o de marxismo. Evocan a cada paso los complejos del psicoanálisis y llegan hoy hasta dejarse prender, bien a su pesar -pero esnobismo obliga-, por el gran Santo Tomás de Aquino… Puesto en la disyuntiva, prefiero a los pompiers que hablan de melodía; que reivindican, la mano en el corazón, los derechos imprescindibles del sentimiento; que defienden la primacía de la emoción, muestran preocupación por lo noble, se dejan arrastrar en ocasiones por la aventura de lo pintoresco oriental y llegan incluso a rendir homenaje a mi Pájaro de fuego. Pensarán ustedes que es por eso porque los prefiero a los otros… los encuentro solamente menos peligrosos. Los pompiers de vanguardia harían mal, por otra parte, en despreciar demasiado a sus colegas mayores de edad. Unos y otros seguirán siendo pompiers toda la vida, pero los revolucionarios pasarán de moda antes que los otros: el tiempo los amenaza más…”

A la luz de esta cita, no deja de ser curioso que en la estrecha visión de los creyentes y admiradores del anti-arte todo lo que no es arte “contemporáneo” oficial es dominguero: o sea, se incluye exclusivamente en la órbita de los viejos pompiers. Aún recuerdo las apasionadas arengas anti-domingueras, anti-pompier de nuestros “y-no-olvidables” profesores de Bellas Artes en la facultad de Pontevedra.

Aún hoy, en pleno 2016, los pro-conceptuales, o creyentes en la nada, nuestros actuales pompiers de vanguardia, siguen criticando a los viejos pompiers, al academicismo, a la mojigatería y la Burguesía… ¡como si viviésemos todavía en la Europa de 1909 y Marinetti acabase de publicar su Manifiesto Futurista. Es decir: siguen tan anclados a aquella época, como los pompiers viejos, a los que tanto odian. Yo casi prefiero, pues, ser menos contemporáneo de ellos y vivir más en nuestra época.

La tinta medieval

—-> Si buscas la receta de la tinta, ve directamente al final del artículo 😉
IMG_20150626_013353.jpg

Desde que leí el imponente libro de Claude Mediavilla empecé a estar obsesionado por conseguir hacer tinta antigua, usando las recetas medievales. Su descripción de las características de esta tinta y sus cualidades únicas me fascinaron. imgp5361Ya cuando estudiaba restauración nos hablaron de las tintas ferrogálicas, las que se fabricaban con sulfato de hierro y agallas de roble, por ejemplo. Pero al ver los terribles efectos de corrosión de la tinta sobre el soporte cuando la fórmula no estaba muy bien equilibrada (nos mostraron algunos ejemplos del siglo XVIII) la descarté como el típico experimento fallido propio de una época. Hasta leer el libro de Mediavilla, realmente no era consciente de la importancia de esta tinta.

La tinta ferrogálica fue la usada en los primeros documentos cristianos, durante toda la explosión de la cultura de los monasterios y conventos, desde el nacimiento de las primeras minúsculas hasta las góticas más floridas, y de hecho es la tinta que se continuó usando casi hasta nuestros días, durante la época de la elegante humanística, la cancilleresca e incluso la letra llamada inglesa (Copperplate). Como dice Mediavilla, en cierto modo se puede considerar que “nuestra civilización es la civilización de la tinta férrica”.

Cuando hice recuento de los materiales necesarios, descubrí que no tenía sulfato de hierro. Sí tenía goma arábiga, y podría conseguir por los alrededores agallas de roble si buscaba en el campo.

En fin, que investigando por ahí encontré que a través de Amazon (o Ebay, no recuerdo ahora) una empresa inglesa vendía el ansiado vitriolo verde (sulfato de hierro) y tras casi dos semanas de espera, aquí estaba. Había visto primero un utilísimo artículo de Ramiro Espinoza, tipógrafo argentino asentado en centroeuropa, pero su receta utilizaba productos químicos que en el momento yo no sabía dónde conseguir. Así que me decanté por recetas completamente “a la antigua”.

Tras muchas búsquedas, un día, con mi hijo José, de 10 años entonces, encontramos en Pontedeume un roble con infinidad de agallas caídas. Ya antes habíamos recogido alguna en el paseo de Caranza, atando un par de palos para golpear las ramas altas, con gran dificultad. La gente se paraba a mirar qué hacía el loco ese del palo… pero apenas rescaté cuatro agallas en media hora.
Lo de Pontedeume en cambio, era la Jauja de las agallas caídas… así que llenamos una bolsa entre mi hijo y yo, y ya esa misma noche me dispuse a preparar una buena decocción a la antigua usanza. Hasta las tantas estuve cociendo las agallas machacadas.

Pero al preparar la tinta, en el momento de unir la decocción de agallas y el sulfato de hierro, la esperada reacción tanino-férrica que da como resultado un bello tono negro violáceo (como de vino tinto pero muy negro) no sucedía. Se quedaba marrón y listo. Aparentemente la cantidad de hierro era excesiva. O lo que es lo mismo, la media bolsa de agallas no daba suficientes taninos para contrarrestar el hierro.

Preguntando preguntando, contacté con un experto: Ángel Cabrera Rodríguez, que en un denso PDF explica muchas de estas fórmulas antiguas que ha probado y ajustado él mismo, y que yo usé como fórmula para este mi primer intento. Amablemente me explicó que las agallas recogidas deben ser recientes, frescas. El árbol se defiende de la avispa que lo parasita envolviendo la larva con una cápsula atiborrada de taninos (agalla) pero con el tiempo esos taninos van suavizándose, y para cuando la agalla ha caído al suelo están en una proporción mínima. Hay un proceso de putrefacción controlada -que narra también Mediavilla- que aumenta la proporción del ácido gálico y tánico originales… Pero si la agalla es vieja hay poco que se pueda hacer.

Así pues, volví a consultar y Ramiro Espinoza me comentó que había en Barcelona una tienda que vendía productos químicos online: Químics Dalmau.

Dicho y hecho. Preparé un pedido online y por teléfono, donde me atendieron con gran amabilidad. En pocos días tenía ya todos los productos necesarios en casa. Santo remedio. Los productos químicos puros y concentrados, lógicamente, funcionaban bien a la primera.

img_20150618_131512

En las instrucciones que explica Ramiro Espinoza en su blog se aclaran los pasos muy detalladamente. Él mismo explica que si bien se recomienda tener la goma arábiga mezclándose en frío varios días para que se disuelva perfectamente, en su caso no pudo contenerse tanto tiempo, y finalmente la disolvía “a las bravas”, removiendo y en caliente. Yo debo confesar que hice igual. Tenía tantas ganas de preparar bien la tinta que justo hice eso, calentar y remover hasta que la goma se ablandaba.

En la primera tanda de tinta fabricada el resultado fue muy bueno. La tinta quedó negra y uniforme, sin grumos. Es una tinta que una vez seca es negra y hasta brillante, pero totalmente impermeable (no se vuelve a disolver en agua). En el momento de usarla no es del todo negra, pero si se aproxima bastante, gracias al truco mencionado por Espinoza: mezclar nogalina como colorante que ennegrezca el tono al principio.

La segunda vez que la preparé, fui mucho más metódico. Esperé el tiempo necesario hasta que la goma estaba disuelta en frío durante dos días o así, y dividí el agua en tres partes para que cada componente se disolviera por separado. Todo lo hice con mil precauciones. Pero -oh mísero de mí, oh infelice- la tinta se acababa precipitando al cabo de unos días en el fondo del bote. Si removía con fuerza volvía a mezclarse ese poso. Pero al cabo de un tiempo volvía a precipitarse de nuevo. El tono no era tan negro y además se podían notar los grumos diminutos de precipitado.

Durante un tiempo revisé toda la documentación para ver por qué la tinta había quedado mal si había sido mucho más cuidadoso. Hasta que comparando las diferencias, me di cuenta de qué había pasado.

Resulta que la goma arábiga se añade no tanto para actuar como aglutinante sino sobre todo para estabilizar la mezcla. Los cristales de sulfato de hierro al mezclases con los taninos tienden a precipitarse y caer al fondo. La goma arábiga precisamente sirve para mantener ese pigmento flotando en suspensión. Por ello, mi primer intento, en el que mezclé la goma arábiga con el tanino, dio mejores resultados que cuando añadía la goma después de la reacción sulfato-tanino.

zzzout0035.jpg
Esta tinta es perfecta también para dibujar.

Otro problema que me acechaba era el del añadido de nogalina. Indefectiblemente la nogalina da lugar a un depósito en cuanto se mezcla con la tinta. No sé si es problema de la cantidad que añado (una cucharadita) o bien de la calidad de la nogalina, porque tengo dos paquetes diferentes y la más antigua parece que produce más depósito que la moderna.

Una nueva prueba, y finalmente, la mejor de las tandas. En lugar de hacer la mezcla en caliente probé a hacer todo el proceso en frío. Dejé tres botes con mezcla: uno con agua+taninos, otro con agua+sulfato de hierro y un tercero con agua+goma arábiga. El orden de la mezcla fue: mezclar primero el agua con tanino y el agua con goma y añadir luego poco a poco el sulfato, removiendo. Al final, una pizca de nada de nogalina ya mezclada con agua, y por último, completar hasta los 200 ml. Es la mejor mezcla con diferencia. Y eso que me demoré demasiados días y la goma ya tenía algo de moho, que tuve que filtrar.

Con este artículo llevo meses. Hace mucho que lo empecé y francamente, no veía el momento de terminarlo. Así que me dije: vamos a acabarlo como sea. Y en fin, aquí estamos.

Tengo aquí un papel que preparé con las instrucciones para nuestros amigos Carlos y Jóse, de México y residentes en Rochester (USA), que no sé si han preparado ya la tinta con los ingredientes que les proporcioné 🙂 Por si no se ve bien, copio también la fórmula por escrito.

sin-titulo-1

RECETA DE LA TINTA MEDIEVAL.

Ingredientes:

  • 10 g. de tanino soluble en agua
  • 7 g. de sulfato de hierro (vitriolo verde)
  • 10 g. de goma arábiga en polvo o granulado
  • 1/4 a 1/2 cucharadita de café de nogalina (opcional)
  • 200 ml de agua destilada, del deshumidificador, de lluvia o agua mineral con baja mineralización.
  • Tres frascos de unos 100-150 ml con tapa (por ejemplo, de paté).
  • Una báscula de precisión para pesar los productos químicos.
  • Un vaso medidor.
  • Un colador.

Preparación:

  1. Se mezcla el tanino con 50 ml de agua destilada y se mete en un frasco con tapa.
  2. Se mezcla la goma arábiga con otros 50 ml. de agua destilada y se guarda también en un frasco con tapa.
  3. Se mezcla el sulfato de hierro con unos 75 ml. de agua destilada y también se guarda en un frasco con tapa.
  4. Se deja pasar un día o dos, hasta que la goma arábiga y los otros productos estén completamente disueltos, sin grumos.
  5. Se mezcla la goma arábiga y el tanino en el vaso medidor hasta su perfecta disolución.
  6. Se añade, poco a poco y removiendo, el sulfato de hierro diluido del tercer frasco hasta que la tinta sea uniforme. El producto será una tinta oscura y algo violácea.
  7. Si se quiere añadir nogalina se puede echar un poco (unos 25 ml.) de agua destilada en un frasco aparte con la nogalina hasta que se disuelva completamente. Se mezcla poco a poco, removiendo y con cuidado, con la tinta recién preparada.
  8. Se añade agua destilada hasta completar 200 ml. en el vaso medidor.
  9. Ya se puede utilizar. Yo suelo guardar la tinta en botellas de cristal pequeñas.

img_20150807_101852-animation

Esta tinta tiene una serie de características que la hacen única tanto para caligrafía como para dibujo. Las principales son estas:

  1. Es totalmente impermeable. Una vez seca puede mojarse sin que le afecte lo más mínimo el agua.
  2. El color negro es más fuerte cuanto más tiempo pase. Al escribir o dibujar se ve gris, pero en pocos minutos es negra como el carbón.
  3. Al aplicarla es muy fluida, por lo que permite líneas finísimas de negro aterciopelado. Pero al secar se va espesando. Es como si se “coagulase”. El olor permite distinguir perfectamente estas fases: en principio tiene un olor semejante al del vino tinto, proveniente de sus taninos. Pero al irse secando comienza a oler a hierro, recordando un poco al olor de la sangre (que también contiene hierro).
  4. Permite ser borrada raspando con una cuchilla. En este sentido se puede borrar mucho mejor que la tinta china, porque no penetra tanto en el papel. Eso sí, para conseguirlo necesitaremos un soporte resistente o de buen gramaje.
  5. Gracias a la goma arábiga tiene una buena elasticidad y adherencia a casi cualquier superficie. Yo la uso en cuadros acrílicos sin problema alguno, sobre la pintura. En estos cuadros, como extra, permite correcciones simplemente frotando enérgicamente con un trapo mojado. Aunque es una tinta impermeable, al quedarse en la superficie se puede eliminar raspando.
  6. Sirve incluso para papeles de muy mala calidad en los que cualquier otra tinta se correría sin remedio.
  7. El mayor inconveniente de esta tinta es que resulta algo corrosiva para las plumillas metálicas, sobre todo algunas de ellas. No obstante si se dedica alguna plumilla exclusivamente a esta tinta no nos arrepentiremos, porque durará bastante pese a verse oscura.
  8. No es buena para rellenar cartuchos de tinta para plumas estilográficas (por su agresividad química con los metales) ni para rotuladores con mecanismos que dependan de la capilaridad. Se trata de una tinta pigmentada en lugar de tintada, por lo que un mecanismo demasiado fino no permitirá pasar a las partículas en suspensión de la tinta.

Por último, me gustaría mencionar aquí las investigaciones que se están haciendo para mejorar la estabilidad química de las tintas ferrogálicas mediante quelación, de las cuales se da buena cuenta en este blog, Science in School, donde también se muestra la manera de fabricar tinta usando agallas de distintas especies, en este caso ¡como una interesantísima actividad escolar!

Espero os resulte útil y os animéis a preparar vuestra propia tinta. Puedo deciros que la mayor parte de tinta que utilizamos tanto yo como mi mujer (pintora e ilustradora) desde hace un tiempo ya es siempre la tinta que fabrico según esta fórmula. Os la recomiendo completamente.

Letras psicodélicas aka modernistas

Es curioso. Llevo unos días estudiando los carteles de Wes Wilson y otros maestros del estilo psicodélico, como Ricardo Rousselot.

Soy consciente de que el estilo pop de los años 60 en publicidad proviene en gran parte del Art Nouveau, con influencias OpArt, lo cual equivale casi a decir más Art Nouveau, porque el Art-Decó que ha influido seguramente en el nacimiento del OpArt es un derivado del Art Nouveau mismo…

Pero en fin, aún así es llamativo lo mucho que Wes Wilson y los demás deben al diseño modernista.

Buscando sobre la letra típica de los carteles psicodélicos, al trazarla yo mismo, me sorprendieron una serie de rasgos característicos, que tanto Wes Wilson como Rousselot, pese a sus diferencias de interpretación, mantenían. Como por ejemplo la “A”, que en lugar de provenir de la mayúscula eran versiones de la “a” minúscula. O que la O contuviera un ojo en forma de S invertida en todas las variantes de la letra. Me sorprendía el diseño tan invariable pese a las licencias a las que un estilo psicodélico podría dar lugar.

Pensé que seguramente habría un origen histórico aquí. Y en un artículo sobre Wes Wilson me encuentro esta imagen, que en principio pensé que era de los sesentas.

psychart10

Pues resulta que no. Que se trata de un cartel para la Secession vienesa del diseñador Alfred Roller. ¡Y es de 1903! El tipo de letra está perfectamente fijado ya entonces.

La época psicodélica lo desenterró y le dio nueva vida, convirtiéndolo en protagonista de carteles y diseños de portadas impactantes, dotándolo de un movimiento y colorido del que carecía en origen, y creando innumerables variantes sobre él. Me parece fascinante. Porque demuestra cómo el arte de la letra está muy, muy vivo. Incluso modelos tan antiguos como las romanas o las góticas siguen dando guerra y en lugar de apagarse vuelven a brillar con luz propia y renovada cuando un diseñador de otra época las necesita para una nueva idea.

En esta segunda imagen puede verse el diseño completo, en el que la letra “psicodélica” muestra a las claras lo bien que pega también como letra modernista cuando el espíritu es el de 1903.

alfredroller-poster

Estoy preparando un logotipo para un grupo musical y es por esto que estudio con interés esta letra. Cuando esté entregado os mostraré encantado el proceso que estoy siguiendo y los diferentes bocetos hasta el trabajo final. Una de las maravillas de hacer este tipo de encargos es poder aprender tanto, no solamente por la práctica sino también por estas investigaciones para entrar en los estilos, que para mí son auténticos descubrimientos fascinantes.

Futuro distópico / Futuro utópico

sanctuary_district_a_processing_center

Escena de Star Trek, Espacio Profundo 9, una de las series de televisión de la saga. Se muestra la entrada a un centro en un “santuario” para pobres de 2024.

Hace relativamente poco pude ver una película de Disney que, en general, me gusta bastante. Pero como pasa tantas veces, el trailer la destripa y encima parte del potencial de la historia se desaprovecha. Esta película es Tomorrowland. Pese a las pequeñas o grandes inconsistencias de guión (que me resultan molestas en la medida en la que el mundo planteado se contradice a sí mismo y lo noto) la película muestra un mundo distópico y uno utópico confrontados, y de hecho el conflicto real de esta trama es justo ese: la posibilidad de cambiar un futuro distópico por uno utópico.

El mensaje de la película es positivo, y por eso aplaudo a Tomorrowland pese a sus fallos. En el cine palomitero se está volviendo tímidamente la utopía, y específicamente la utopía basada en la ciencia, como objetivo de la humanidad. Películas como Interstellar o The Martian muestran la ciencia no como una fuerza malvada sino como una herramienta que puede mejorar nuestras vidas. Y creo que eso es algo por lo que deberíamos alegrarnos. Que la ficción rescate la utopía tras décadas de “oscuridad” creciente es por una parte algo positivo y por otra el síntoma de que la situación actual ya es terrorífica (y va a peor).

La ficción nos muestra también que las causas de nuestra debacle son sobre todo económicas y políticas, es decir, que como Stephen Hawking declaró, el peligro verdadero es el capitalismo neoliberal. Los desastres ecológicos, el cambio climático, la vuelta de las religiones más fanáticas o la inestabilidad social y política a nivel mundial, son en realidad síntomas del cada vez mayor dominio del sistema neoliberal, una especie de Feudalismo 2.0 en el que la desigualdad ha llegado a un extremo tan alucinante que el propio feudalismo medieval parece un sistema comunista igualitario a su lado. En nuestro mundo actual las distopías sociales como la presentada en “Elysium” resultan hasta tímidan. El corporativismo malvado de historias distópicas como Robocop o Terminator hoy nos parece entrañable por su candidez. ¿Una ciudad propiedad de una empresa? ¡Hoy son países enteros! Las élites económicas actuales manejan a su antojo incluso a las grandes naciones de un modo tal que la sangría ejecutada con Grecia no nos escandaliza demasiado. Hoy apenas podemos hablar de naciones soberanas, quitando quizá a Rusia y China, que poco a poco la prensa nos va calificando como el nuevo “eje del mal”.

En la ficción, mundos como el de Star Trek (sobre todo en La Nueva Generación) nos muestran una posibilidad de mundo utópico plausible, en el que la economía es colaborativa y todos los aspectos de la sociedad son llevados con racionalidad y un más que sano desapasionamiento. Una sociedad futura que ha dejado atrás las religiones y la guerra, y en el que el dinero ya no tiene valor alguno. Incluso: una sociedad sin televisión. Para las legiones de integrados en el neoliberalismo que tienen la suerte de estar en el lado del Elysium social, toda esta utopía suena fatal. Pero para mí es quizá una de las pocas posibilidades reales de que perduremos en el futuro. El camino actual nos lleva a la extinción inevitablemente, o a un mundo que no va a valer la pena vivir.

Incluso las historias distópicas del pasado siempre tenían el valor de advertencia, como la primera parte de Tomorrowland. Nos vamos a la mierda si seguimos así, tenemos que desear activamente la utopía.

Pero hoy en día, mediante remakes y reboots incesantes, todo el valor de advertencia de historias como Robocop se está borrando. Se hacen remakes en los que cualquier atisbo de crítica social se diluye. También se trastoca el valor positivo y proyección de relatos utópicos, por eso me parece particularmente detestable lo que JJ Abrams le ha hecho a Star Trek, convirtiendo a los personajes en imbéciles adolescentes y la sociedad de Star Trek en un capitalismo actual pero con robotitos.

En resumen, nuestra sociedad actual no solo iguala sino que supera en maldad a muchas de las distopías clásicas del cine y la literatura. En su momento, hace veinte años, yo me preguntaba si el futuro sería utópico como Star Trek o una distopía. Y dentro de las distopías me preguntaba cuál sería la nuestra en el futuro: ¿Mad Max? ¿1984? ¿Un Mundo Feliz? ¿La Fuga de Logan? o más modernamente ¿V de Vendetta?

Y lo que ha resultado ser es que no es ninguna de ellas: son TODAS a la vez. El mundo actual es la suma de todas las horribles distopías del pasado. O nos ponemos las pilas y pensamos activamente en la manera de revertir esto como en Tomorrowland, o no habrá futuro que contar.
En realidad las películas como V de Vendetta, Tomorrowland y otras, nos muestran un final de la distopía bastante suave, sencillo. Pero en la realidad, solamente la desobediencia, la rebelión generalizada contra el status quo establecido puede llevarnos a ganarnos un futuro. Por desgracia incluso el sistema distópico actual ha prevenido esta rebelión de mil maneras, sea mediante la omnipresente propaganda o la desmovilización política mediante el activismo de distracción (conspiranoias, veganismo, animalismo…) que en lugar de ver objetivos reales se centra en objetivos ficticios o bien en objetivos muy parciales obviando las causas globales.

Recientemente también he visto otra película que hace tiempo que quería ver. Tras la apariencia de una comedia absurda y facilona esconde quizá la más espantosa de las distopías, ya predicha en la ciencia ficción clásica otras veces, pero que esta peliculita aparentemente inocente retrata mejor que nadie:

IDIOCRACIA.

detroit-present-day
Futuro en “Idiocracia”. Parece que vamos a esto de cabeza.